2007/08/03

Contradição...ou talvez não...

Contradição...ou talvez não...

O ser humano por natureza é egoísta, ambicioso, irrequieto, inquieto, nervoso, etc, etc...enfim é humano. Até aqui não há nada de novo. O que há de novo, de facto é se eventualmente errarmos, e apesar disso, pensarmos que foi só um acidente de percurso e não pensarmos que estamos mesmo errados.
Vem esta dissertação a propósito do que se passa com algumas coisas (muitas) que afectam a nossa Sociedade. Em Fevereiro último, no dia onze, foi referendada a Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG), mais conhecida pela Lei do Aborto (votei a favor da despenalização). Esta Lei, agora aprovada, e promulgada pelo Sr. Presidente da República, tem como objectivo principal combater o aborto clandestino e evitar que muitas mulheres desesperadas gastassem o que tinham e o que não tinham para abortar, para além de poupar muitas vidas das mulheres (curioso, fala-se em poupar a vida da mãe, mas não se fala em poupar a vida do feto). Esperamos todos que mais nenhuma Mulher morra por abortar. Entretanto o Governo fechou, e não sei se vai continuar, várias serviços de maternidade dentro dos hospitais de Norte a Sul do País, fazendo com que muitas mulheres tenham que andar muitas dezenas de quilómetros, fazendo com que os bebés nasçam dentro das ambulâncias a caminho dos hospitais, e outras ainda tenham que ir a Espanha “dar á luz”.
Contradição?...Talvez não...
O Governo fez aprovar esta semana em Conselho de Ministros um novo pacote de incentivos à Natalidade. Incentivos esses que vão, desde uma redefinição dos escalões do IRS até a um aumento dos valores pecuniários a receberem por mês, o começo e duração dos mesmos.
Não acho mal o Estado dar estes incentivos. Aliás, a maior parte dos Países da Europa já o fazem, e até porque, de acordo com estudos efectuados por vários especialistas, chegou-se à conclusão que daqui a cem anos, Portugal terá menos dois milhões de habitantes. Nestes países da Europa os incentivos à natalidade não são a solução, mas um complemento de todo um sistema integrado, desde a Maternidade, Infantário, Escola à Universidade. Mas também acho, que em Portugal, o Estado devia incentivar a adopção, quer através de Leis mais incisivas e mais simples que fizessem com que um processo de Adopção demorasse um curto período de tempo, quer através de “estímulos” financeiros. Segundo estudos recentes cerca de sete casais em cada dez tem problemas de procriação e três não conseguem mesmo ter filhos. Sabendo que existem neste pais uns milhares de crianças com idade para serem adoptadas, porque não facilitar esta adopção?
São vários os motivos que fazem com que a Natalidade seja baixa. Os Jovens casam cada vez mais tarde, os empregos cada vez são menos seguros, cada vez o custo de vida está mais elevado e sobretudo, porque nós cada vez estamos mais egoístas.
Contradição?...ou talvez não...
Então o Estado dá incentivos financeiros para ter filhos e não dá as condições necessárias para as mulheres terem os filhos em segurança e não dentro das ambulâncias? Aliás, Portugal é o país da União Europeia com mais nascimentos a caminho das maternidades. Sobretudo quando se diz aos portugueses que esses serviços de maternidade foram fechados porque não eram rentáveis...Ora todos sabemos que Portugal é o País da União Europeia que mais gasta em Saúde per capita, ou seja, é o que mais dinheiro gasta, do Orçamento de Estado, por habitante. E nós sentimos isso? Só se for a sair dos nossos bolsos, porque quanto ao resto estamos conversados! Sinceramente, acho que não é por fechar esses serviços que o Governo consegue resolver o défice da saúde no subsector Estado. Sairia mais barato ao Estado não fechar estes serviços e outros, como por exemplo os SAP (Serviços de Atendimento Permanente) e Tribunais que ajudam a fixar as populações às terras e são por si só impulsionadores da criação de riqueza nessas localidades. Senão vejamos, quem é que vai morar para uma vila ou pequena cidade, já para não falar em aldeias, se tiver um SAP ou um serviço de maternidade a sessenta, setenta ou oitenta quilómetros?
A curto prazo podemos estar a poupar uns cobres, mas a médio e longo prazo estamos a hipotecar o Futuro do nosso país. Estamos a castrar o desenvolvimento sustentado do todo Nacional. Depois não venham com incentivos para povoar o interior de Portugal, porque sem as infra-estruturas essenciais para um desenvolvimento normal e equilibrado, os terrenos dados por muitas autarquias no interior deste País para a instalação de empresas, continuam à espera de dono.
Contradição... ou talvez não...continuamos a ser uns país de reacção (leia-se a reboque dos acontecimentos) e não de acção, ou seja, não tomamos medidas antecipando os problemas.

Pedro Bravo

8 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns ao Blog e a quem escreveu este artigo, susceptível de muita discussão.
Zeca

Anónimo disse...

Infelizmente cada um tem o País que merece, porque afinal se estamos nesta situação somos nós os culpados, sempre colocando no poleiro os mesmos políticos retrógrados, sem ideias novas e agarrados aos partidos gastos e velhos.
João Silva

Anónimo disse...

Não quero por em causa coisa alguma, mas será que o Sr.Pedro Bravo tem razão em tudo o que escreve???
José Sá

Anónimo disse...

Ora aqui está algo que todos deveriam ler e refletir um pouco.

Anónimo disse...

Li tudo com atenção, bem pensado, mas como alguem disse haverá muito pano para comentários e "discussão"

Concordo plenamente com o ultimo comentário;
"Ora aqui está algo que todos deveriam ler e refletir um pouco"

BP

Anónimo disse...

Parabens Sr. Vitalino e D. Susana, por ter publicado este artigo.
Penso que está muito bem escrito e está bem estruturado. Eu votei NÃO contra a despenalização da IVG, mas não é por isso que aplaudo este artigo. Aplaudo-o pelo seu conteudo, pela encadeamento dos factos e subsequente e implicita análise.
E fala de assuntos muito, muito, sérios.
Parabens mais uma vez...

António

Anónimo disse...

O Senhor José Sá ou anda distraído ou vive noutro planeta.
Na sua maneira de pensar tudo deve correr bem neste jardim à beira mar plantado. Deve ser adepto fervoroso da “Rosinha” e embarca nas visões do seu engenheiro.
João Vaz

Anónimo disse...

Eu não sei se é Contradição ou não, mas ainda há pouco vi nas noticias que existem 10 mil crinças sem familia e lembrei-me imediatamente deste artigo (bem ecrito e bem elaborado, diga-se em abono da verdade, sobre a lei da adopção e não só. É evidente que nem todas estão para adopção ou em idade adoptável, mas a esmagadora maioria estão. associo-me por completo a este artigo e ás criticas elogiosas anteriormente proferidas por outros cidadãos. Obrigado sr. Pedro Bravo

José Martins