A NEVE
O tempo fugia debaixo dos pés, e a dor misturava-se com a brancura da natureza num simbolismo de perfeição. O frio, implacável, estreitava-os ainda mais como se fosse aquela a ultima gota de conforto, como se a vida fosse apenas aquele casebre onde se refugiram da neve que caia do tecto esburacado, mansamente.
- Mãe, tenho frio...
Como nunca as mãos dela foram buscar dentro de si mesma o calor ainda possível de repartir. E apertou o filho ao peito, cingindo-o com o amor que só uma mãe possui em momentos como aquele. E aqueceu-o com seu respirar lento e cansado.
- Mãe, tenho fome...
La fora, num tempo sem precisão, e indiferente ao drama de ambos, a noite ia chegando.
Talvez muito longe assobiou um pássaro. Ou seria o uivar dum lobo... Que fazer? Os pensamentos da pobre mãe escorriam muito torpes, enregelados pelo frio que apertava cada vez mais. Ergueu os olhos e pôde ver, distintas e cintilantes, através do tecto sem telhas, as estrelas que ate pareciam sorrir-lhe. E, simples e sem forças, ela esboçou um sorriso...
- Mãe, tenho medo...
Um arrepio estremeceu-a. E, com voz cava e desnutrida, reuniu as poucas forças ainda existentes em si, e contou a história dum menino que sonhava ter uma estrelinha como amiga, e que todas as noites no seu jardim, olhando o céu brilhante, falava com a mais pequenina delas todas... A mais pequena mas para ele a mais bonita.
E só se calou quando sentiu que o filho tinha adormecido.
Ténue, muito ténue, quase brotou um porquê para a sua vida de dor e sonhos não tidos. Uma lagrima desprendeu-se. A neve, pura e terna, continuava a cair. A doce mãe ergueu de novo os olhos para o céu, e balbuciou uma breve oração. Depois deu um beijo ao filho que dormia feito anjo, e, apertando-o ao peito o mais que pôde, assim ficou ate que ela mesma adormeceu...
E quando, na manha seguinte, o sol nasceu, mãe e filho estavam cobertos de neve, imóveis, abraçados um ao outro como um só, no rosto o sorriso do último caminhar...
A. Maioto
O tempo fugia debaixo dos pés, e a dor misturava-se com a brancura da natureza num simbolismo de perfeição. O frio, implacável, estreitava-os ainda mais como se fosse aquela a ultima gota de conforto, como se a vida fosse apenas aquele casebre onde se refugiram da neve que caia do tecto esburacado, mansamente.
- Mãe, tenho frio...
Como nunca as mãos dela foram buscar dentro de si mesma o calor ainda possível de repartir. E apertou o filho ao peito, cingindo-o com o amor que só uma mãe possui em momentos como aquele. E aqueceu-o com seu respirar lento e cansado.
- Mãe, tenho fome...
La fora, num tempo sem precisão, e indiferente ao drama de ambos, a noite ia chegando.
Talvez muito longe assobiou um pássaro. Ou seria o uivar dum lobo... Que fazer? Os pensamentos da pobre mãe escorriam muito torpes, enregelados pelo frio que apertava cada vez mais. Ergueu os olhos e pôde ver, distintas e cintilantes, através do tecto sem telhas, as estrelas que ate pareciam sorrir-lhe. E, simples e sem forças, ela esboçou um sorriso...
- Mãe, tenho medo...
Um arrepio estremeceu-a. E, com voz cava e desnutrida, reuniu as poucas forças ainda existentes em si, e contou a história dum menino que sonhava ter uma estrelinha como amiga, e que todas as noites no seu jardim, olhando o céu brilhante, falava com a mais pequenina delas todas... A mais pequena mas para ele a mais bonita.
E só se calou quando sentiu que o filho tinha adormecido.
Ténue, muito ténue, quase brotou um porquê para a sua vida de dor e sonhos não tidos. Uma lagrima desprendeu-se. A neve, pura e terna, continuava a cair. A doce mãe ergueu de novo os olhos para o céu, e balbuciou uma breve oração. Depois deu um beijo ao filho que dormia feito anjo, e, apertando-o ao peito o mais que pôde, assim ficou ate que ela mesma adormeceu...
E quando, na manha seguinte, o sol nasceu, mãe e filho estavam cobertos de neve, imóveis, abraçados um ao outro como um só, no rosto o sorriso do último caminhar...
A. Maioto
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