2012/04/06

A Páscoa e a nossa Terra



Esta terra ainda vai resistindo a tradições quase únicas no nosso país.
 A apanha do mexilhão na nossa costa por populares na manhã de sexta-feira Santa, perde-se nos tempos. Embora sem o fulgor de outrora, ainda aqui e ali vão aparecendo os que fazem fica pé para que a tradição não morra. Depois de algumas molhas e trambolhões nas rochas para apanhar os cobiçados mexilhões, tudo acaba numa almoçarada familiar.
Pela minha parte mantenho viva a velha tradição. Embora não tenho descido até ao mar para a apanha dos famosos moluscos bivalves, o meu filho Marco Cara D’Anjo encarregou-se de o fazer, por mim e por ele.
Quem não se sentir com coragem de enfrentar o nosso mar, tem sempre alternativa de adquirir mexilhões para o petisco ali por perto.
Também como é hábito aqui vai uma receita. Desta vez um pouco mais a atirar para o Gourmet.
Como nota digo-lhes que esta receita tem mais de 100 anos


Mexilhões à Provençal

Coze-se uma porção de mexilhões e depois de cozidos tira-se-lhe o pincel ou barbas que têm seguro ao corpo; pica-se depois muito bem o mexilhão depois de retirado da casca e leva-se assim picado a uma frigideira com um dente de alho esmagado, alguma pimenta moída, um golpe de azeite bom, sal suficiente; salteiam-se, ou deixam-se ferver por um momento, e em estando o marisco bem saturado deste tempero, tira-se do lume, mistura-se-lhe um pouco de esparregado de espinafres, como abaixo explico, e tempera-se com sumo de limão. O esparregado faz-se de espinafres, com bom azeite um dente de calho e uma pitado de pimenta, coze-se os espinafres com a água do mexilhão e engrossando o esparregado com pequena porção de farinha, que deve ficar bem cozida; tempera-se de sal e faz-se o seguinte: enchem-se as cascas dos mexilhões com o picado dos mesmos e com os espinafres que fizemos; depois de cheias unem-se uma à outra e atam-se com uma linha; em estando esgotado o picado, põe-se no fundo de uma frigideira funda uma camada de mexilhões cheios e picado, em cima destes outra camada esparregado e assim sucessivamente até acabar uma e outra coisa, contando que a ultima camada seja esparregado; põem-se então em cima deste pão e queijo parmesão ralado salpica-se com azeite e vai ao forno forte; em estando coradinho por cima tira-se e serve-se.  
Para acompanhar um branco “Chão D’Areia” da Adega Regional de Colares. 
Nota
Muitas destas receitas foram elaboradas no princípio do século passado e como tal o português empregue nessa altura, era um pouco diferente daquele hoje utilizamos. Elas foram-me passadas assim, pela minha avó Margarida de Portalegre e em sua homenagem procuro não adulterar a sua real origem.


2 comentários:

Anónimo disse...

É verdade, isto é típico, por aqui (onde estou agora, Pr Maças) mas espanto meu ouvir dizer que muito do mexilhão vem da Nova Zelândia!

Nate disse...

No meu tempo nao eraam assim tao sostificados,abriam-se na chapa ou fazia-se arros do mesmo que ficava uma delicia.E os precebes niguem apanha eram enormos e saborosos.Nos iamos apanha-los na sexta feira Santa a praia da Adraga e a Praia Grande.E como nesse dia nao se comia carne era comer ate fartar.