2013/08/12

Memórias da Guerra Colonial/Escritas por Alfredo Maioto

PALAVRAS PARA OS MEUS AMIGOS

SOLTA-SE EM MIM UMA LÁGRIMA SEMPRE QUE VOS VEJO.
É UMA LAGRIMA SIMPLES, FRESCA, TERNA,
VINDA DUM TEMPO COM MEMORIA FUNDA
E SAUDADE DE TODAS AS MARCAS...
SEMPRE QUE VOS VEJO O CORPO
TORCE-SE EM LEMBRANÇAS
ENQUANTO A MEMORIA SE DISPERSA
POR PEDAÇOS DE FRAGMENTOS CANSANDO-SE  
NA RECONSTRUÇAO DE CENAS E RECANTOS,
DE SORRISOS E SILENCIOS,
DUM ABRAÇO QUALQUER DADO NUM SEGUNDO QUALQUER,
NA EVOCAÇAO DE PALAVRAS DITAS OU SIMPLEMENTE CALADAS.
E, SAIDO NÃO SEI DE QUE QUADRADO DE MEU SER,
DESPONTA NA BARRIGA UM TORNADO EM MINIATURA, PEQUENINO,
MAS QUE SE ESPETA EM MIM QUAL PALHA DE CAPIM SECO,
E NÃO ME LARGA, E ME PERSEGUE COMO UM BOM VICIO. 
DEPOIS, AOS POUCOS, PALAVRA APÓS PALAVRA,
GESTO APOS GESTO,  ADQUIRE FORMA DE TSUNAMI
PENETRANDO NAS  MINHAS VEIAS, NAS ARTERIAS, NO MEU PENSAR,
NO MEU SENTIR, E LÁ FICA COMO DONA LEGITIMA
DESSAS SENSAÇÕES QUE, DE TAO DOCES, ATE MAGOAM...    
É ESTA FALTA DE AR QUE ME OPRIME,
ME SUFOCA, QUE INSISTE E PERSISTE  
EM ME POSSUIR PARA ALÉM DE TODAS AS ANSIAS,
A QUE EU NÃO RESISTO, NÃO QUERO RESISTIR,
E ENTAO A ALMA CEDE... 
VEJO-VOS, AINDA HOJE, MENINOS A BRINCAREM
CHANGARA ADENTRO EXPELINDO ENERGIA PELOS RISOS 
DA VOSSA GENEROSIDADE,
DE CALÇAO VERDE, MEIA VERDE,
CAMISA VERDE TAMBÉM,
BOINA CASTANHA,
AS MAOS CHEIAS, CHEINHAS  DE AMANHAS
NA ALMA A ROBUSTEZ  DO EMBONDEIRO.
OIÇO AINDA HOJE VOSSA VOZ GRITANDO BRINCADEIRAS, 
PROTESTANDO O ALMOÇO, CANTANDO NA PARADA O CANSAÇO, ,
RINDO A CERVEJA FRESCA NA MÃO,
GESTICULANDO PLANOS, FALANDO AO ACASO
PARAGRAFOS IMPROVISADOS, APENAS FALANDO...
E EU, TAMBÉM MENINO COMO VOCES,
OUVI E REPARTI  SONHOS,
OUVI VOSSAS MAGOAS E PROTESTOS, 
E NA CURVA DA NOITE, PRA NINGUEM SE APERCEBER,
EMOCIONEI-ME NA VOSSA TERNURA. 
CONVOSCO CHOREI PALAVRAS QUE O CORAÇAO RECORDA
E QUE A MEMORIA EVOCA ENTRE SILABAS VIDRADAS...
NÃO SEI PORQUÊ, MAS ESTA LAGRIMA RESISTE AO TEMPO
E RENASCE SEMPRE QUE VOS VEJO...  
ACHO QUE É SAUDADE.
SAUDADE DA VOSSA GARGALHADA FORTE,
SAUDADE DO BRILHO INTENSO DO VOSSO QUERER,
SAUDADE DA CERTEZA DE SABER QUE ESTAVEIS LÁ,
A MEU LADO, QUANDO O PEITO FRAQUEJAVA...
NO PERIGO, NA SELVA, NAS MAGOAS, NAS FARRAS,
SEMPRE, SEMPRE.
E POR ISSO, SEM SABER COM EXACTIDÃO QUANDO,
UM DIA SEMEEI  VOSSO NOME NO SANGUE, UM A UM, COM SUAVIDADE
PARA ASSIM NÃO SE APAGAREM  TAO RAPIDAMENTE
NAS TREMURAS DA IDADE...
POR TUDO ISTO SOIS ESPECIAIS. SOIS ÚNICOS.
EXCLUSIVOS. INAPAGAVEIS.
SOIS A SAUDADE. SOIS A MEMORIA. SOIS O TEMPO. 
SOIS O ONTEM COM VERSOS DE HOJE.  
SOIS O ONTEM NA LÁGRIMA DE AMANHÃ... 

PORTO, 05/05/06
Alfredo Maioto

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