A
TENTAÇÃO
Ali estava ela à minha frente,
seduzindo-me com seu cheiro e encanto. Bela, imponente, diria até perfeita, nos
seus 26 anos, dona dum moreno transparente que chamava por mim mesmo sem nada dizer.
E em minha boca uma água estranha nascia só no desejo em experimentá-la,
sacudido o corpo por um estremecer dormente. Como seria delicioso, imaginava
eu, senti-la escorregar em mim, docemente, sentir seu perfume de idade macia e
fresca, fechar os olhos e deixar-me arrastar pelo seu enfeitiçamento!
À minha frente, silenciosa e
provocante, ela chamava por mim, parecendo-me ate, no meu imaginar, que ela murmurava
baixinho “ vá, prova-me! Prova-me!” Eu resistia, resistia… Mas a que custo!
Mas, cedendo à tentação, seria
atraiçoar meu amigo, e amizade não se trai! E eu resistia, a boca cada vez mais
seca. O desejo, esse, entranhava-se mais e mais em meu querer. E a fraqueza ia
tomando conta de mim! E eu quase rendido à sua cor morena e feitiço em idade
tão sedutora.
Finalmente decidi-me, sobrepondo-se
a razão ao desejo. Não, não iria atraiçoar meu amigo. Pelo menos hoje. Talvez
um dia quando o desejo for mais intenso e a carne mais fraca… Prova-la-ei
quando tiver de ser, mas não hoje!
E assim, em gestos lentos, muito
vagarosos, quase cerimoniais, volto a colocar na pequena garrafeira, feita em bronze,
que tenho na cozinha, a garrafa de Colares, da colheita de 1985, que a Joaninha
do Cara D’anjo me deu em 1998 no almoço da malta que comigo esteve em
Moçambique…
Paredes Coura
Alfredo Maioto
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