2008/04/21

Recado de um Veterano

Que palavras? E como dize-las no tempo que rola tão depressa e não me permite faze-lo com a calma que elas exigem, sentindo-as como eu gosto de sentir, solta-las com toda a singeleza e deixar-me docemente arrastar, arrastar sem destino nem finalidade, simplesmente voar, voar, voar...
As palavras existem sempre em mim, umas vezes mais vivas que outras, mas sempre cheias de vitalidade. Porque sentir é uma velha fraqueza minha!

Ontem vi na televisão aquele programa em que voltaram para buscar "malta" que por la ficou enterrada ao acaso, sem cruz alguma, sem nome, num descampado sem numero, esquecidos por quem os mandou para lá... A Pátria esqueceu-se deles! E a família sem direito a chora-los, sem direito que fosse a tê-los no cemitério entre umas flores e uma oração. Nada, simplesmente desprezados.

Confesso: não tive coragem de ver o programa ate ao fim. Porque? Ora, tu, meu bom Amigo, melhor que ninguém entende a razão! Porque, ao ver a emoção, nos olhos e nas frases, de quem por lá andou, evocando locais e pedaços desse pedaço tão duro, e calando porque as palavras ficavam estranguladas na garganta, eu deixei-me contagiar por tudo isso! Não aguentei, não aguento nunca! É que de repente, sem saber donde provem (sei! apenas não quero acreditar que sei!) levanta-se uma saudade que se apodera de mim e me deixa como que anestesiado, transportando-me de imediato para "lá", aquele recanto onde a emoção se escreveu no tempo, perpetuando-se em mim...
Fraquezas minhas, já sabem!
E com quem falar palavras magicas como "G-3", "patrulhas", "mato", "turras", "desespero", "lágrimas", "saudades", "feridos", "mortos", "AMIZADE", que, só em ouvi-las, logo a alma se eriça atravessando décadas de comoção???? Bem podia reparti-las por outras pessoas, eu sei, mas, por mais que eu tentasse, nunca as conseguiria entender o verdadeiro significado delas mesmas, fazendo-as sentir o cheiro, a cor, a dureza do chão, o significado da palavra AMIGO!!!!

Hoje, ontem, a Saudade nunca morre...

Um forte abraço a todos os veteranos,
A. Maio

3 comentários:

Anónimo disse...

A.Maio, não sei se o conheço, ou se é o próprio caradanjo, mas seja quem for, o meu muito obrigado.
Precisamos de muitos Maios para atrvês deles exprimirmos o que nos vai na alma e no coração. Embora já não seja um jovem, gostaria que o meu sofrimento não fosse esquecido, como diz e muito bem, como um livro que já foi lido.
Bem Haja
João

Anónimo disse...

Será que esta situação existiu mesmo da forma como a pintam (guerra)?????? ou tudo não passou de um simples viagenzitas atá África?...
Não Comatente nem Veterano.

Anónimo disse...

Meu caro anónimo... pelas suas palavras ve-se bem que nunca ouviu ninguem a falar da guerra do ultramar cara-a-cara.... tente ouvir alguem que esteve lá e olhe-o nos olhos... verá na sua expressão e bem no fundo do olhar, um pouco do que lá passaram... o medo, o desespero, a morte...
só lhe posso dizer que não estive... nem sequer ainda tinha nascido... tenho apenas 28 anos mas já tive essa experiencia e digo-lhe que por muito que tente abraçar pra tentar consolar a pessoa que exprime apenas uma pequenina parte do que lá passou nunca irá conseguir sentir nem sequer aliviar a revolta de ver perder AMIGOS a desaparecer devido a uma guerra de enganos... faça investigações.... e veja que muitas pessoas escrevem as suas memórias e se juntar todas elas... conseguirá juntar peças e verá que são bem reais...

N.R.